Sinais
O economista Fabio Giambiagi, uma das maiores autoridades brasileiras em Finanças Públicas e Previdência Social, especialista em Demografia, alerta para algumas variáveis do crescimento populacional brasileiro merecedoras de maior atenção do governo.
Trata-se da redução sensível no número de nascimentos, que somada ao aumento da expectativa de vida, ocasionará um percentual bem maior de idosos na população, em relação ao previsto no planejamento do país. E isso trará impactos, em um horizonte de trinta anos, na organização escolar, no mercado de trabalho, nas políticas públicas de saúde e na previdência social.
Essa realidade já é vivida por muitos países, pois a inclusão de mais mulheres no mercado de trabalho teve como uma das consequências o adiamento do nascimento de filhos e, na maior parte dos casos, a opção por um único filho. Se em outros tempos famílias de classe media sustentavam sem problemas três, ou até quatro crianças, atualmente houve um aumento exponencial de custos com novas demandas em educação, saúde, esportes, roupas, cursos complementares, viagens de lazer e de estudos.
Vários hospitais estão realocando investimentos das alas de pediatria para gerontologia, ortopedia, cardiologia e outros setores mais voltados ao atendimento a idosos; e os reflexos disso podem ser notados na redução da procura por residências médicas de pediatria.
De 2003 a 2013 o número de matriculados em Educação Básica decresceu de 55.265.848 para 50.042.448, mesmo tendo havido neste período a implantação de políticas que reduziram a repetência, dado alarmante, embora na educação superior tenha havido aumento de matrículas, de 3.520.627 em 2002 para 7.037.688 em 2012. (MEC/INEP – SINEPE/PR). Todavia, mesmo estando hoje os matriculados no terceiro grau em maior número que dez anos atrás, vem caindo o ritmo de crescimento anual dos ingressantes, embora alguns programas governamentais como FIES e PROUNI tentem estimular o ingresso e a permanência neste nível de ensino, através da concessão de bolsas ou financiamentos.
Nosso país sempre teve políticas econômicas e industriais baseadas na grande disponibilidade de mão de obra, terra, recursos hídricos e minerais; a mudança do perfil populacional obrigará a um processo de qualificação real da mão de obra, com a formação de cidadãos educados e preparados para as necessidades do trabalho, conscientes de seu potencial e de seus direitos. O uso predatório da terra já produz efeitos, com áreas imensas incapacitadas para a produção, associadas a desmatamentos criminosos e monocultura. O mundo tem e terá cada vez mais fome: nós, o antigo “celeiro do mundo” poderíamos auxiliar a alimenta-lo, porém, não o faremos inviabilizando nossa natureza.
Doze por cento da água doce superficial do planeta está no Brasil, isso é mais água do que existe em todo o continente africano ou na Oceania, e parece sem qualquer sentido a realidade da região mais rica do país estar ameaçada de racionamento pesado de água, apenas em função da estiagem de um ano.
Governos e escolas precisam preparar-se para esta nova realidade, no limiar de um tempo no qual teremos - e seremos - mais velhos do que jovens; recursos naturais e humanos existem, mas é preciso planejamento, previsão, determinação e trabalho.
Professora Wanda Camargo - assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil.