O Tratado de Redução Atômica e o Regime Iraniano
*Artigo escrito e publicado em 2010
Recentemente, os governos dos EUA e da Rússia anunciaram a futura entrada em vigor do Tratado de Redução de Armamentos Nucleares Estratégicos, em substituição ao extinto START-1, e cujo objetivo é a diminuição do número total de ogivas atômicas a um total de 1.550 para cada lado.
O anúncio, feito pelo governo Obama no momento em que as atenções internacionais estão voltadas para o programa de enriquecimento de urânio do regime iraniano, tem o claro objetivo de pressioná-lo diante do mundo, já que mostra a Rússia – um dos maiores parceiros comerciais do Irã e seu grande aliado no fim da Guerra Fria – renunciando à condição de primeira potência nuclear do planeta em favor de uma virtual igualdade com os EUA no número de armamentos atômicos. Ora, se a Rússia faz tal concessão, que justificativa teria o Irã em, no mínimo, permitir inspeções ao seu programa nuclear?
Obviamente, o Irã argumentará ser insuficiente o tratado, pois o número de ogivas restantes ainda é mais que suficiente para destruir o planeta. Além disso, a própria Rússia, satisfeita com os sinais abstratos de reprovação transmitidos aos iranianos pelo anúncio do tratado (que em nada vai afetar sua capacidade de autodefesa), vetaria no Conselho de Segurança da ONU qualquer sanção, pois é um dos maiores fornecedores de petróleo, de gás e de outros produtos essenciais ao Irã. E, mesmo que os russos ou quaisquer outras nações com assento permanente não impedissem eventuais punições, estas somente reforçariam o ódio ao Ocidente e, por conseguinte, o apoio interno aos aiatolás e ao programa nuclear.
Desta forma, inútil o tratado, assim como a Cúpula sobre Segurança Nuclear há pouco realizada em Washington, uma vez que, sendo quase todas as potências nucleares aliadas do Ocidente (inclusive Índia e Paquistão, independentemente de sua inimizade mútua), não atacam a questão central da insegurança atômica gerada pelo regime teocrático iraniano: a inexistência de um Estado palestino.
Enquanto não existir um seguro e viável Estado palestino, o governo iraniano e os grupos fundamentalistas por ele apoiados continuarão a disseminar a crença de que tal é uma agressão ao Islã, já que grande parte dos palestinos é muçulmana (por sinal, uma bela religião), e, assim, se manterão em evidência utilizando discursos xiitas, mas eficazes. Por isso, o Irã não hesitará em fornecer a bomba atômica aos mesmos grupos, que as utilizarão contra o Ocidente sem medo da retaliação, eis que não temem, mas desejam a morte como forma de martírio, e, como conseqüência, de passagem para o paraíso.
P.S. Outra potência nuclear inimiga do Ocidente é a Coréia do Norte, que nunca despejará a primeira bomba e jamais lançará o primeiro míssil, pois se trata de um regime ateu, que, justamente por isso, tem instinto de autopreservação ao temer a morte.