A reforma do ensino médio por meio de Medida Provisória: É"temerário" mudar primeiro o currículo para ajustá-lo depois.
A reforma do ensino médio por meio de Medida Provisória:
É"temerário" mudar primeiro o currículo para ajustá-lo depois.
(*) Nelson Valente
É necessária cautela na unificação das 13 disciplinas do ensino médio público nacional em quatro grandes áreas do conhecimento - anunciada recentemente pelo Ministério da Educação (MEC).
Os países desenvolvidos, como a Inglaterra, experimentaram unificar as disciplinas do ensino médio sem sucesso. A sorte é que eles têm mecanismos rápidos para reverter uma decisão dessa magnitude.
Ainda que o conhecimento seja integrado, o estudo tem de ser dado de forma desintegrada porque em algum momento haverá necessidade de se ter todas as bases para formar o conhecimento integral.
A reforma do ensino médio por meio de Medida Provisória evidencia que o governo de Michel Temer está sem rumo. O que me preocupa é que os mesmos que conduziram a desastrada política do MEC na era do FHC estão por trás dessa nova reforma.
É uma medida "precipitada" e sugere a criação de um debate na sociedade a fim de aperfeiçoar o projeto e apresentar solução para os problemas crônicos do ensino médio nacional. O que se teme é que o ensino médio fique mais genérico e prejudique os alunos, principalmente os menos favorecidos que não podem estudar em escolas privadas.
A impressão que se tem é a de que, para evitar o problema de evasão escolar, querem baixar medidas sem enfrentar as causas mais profundas do ensino médio.
A proposta do MEC de integração das disciplinas do ensino médio sinaliza uma manobra em uma tentativa de "resolver a falta de profissionais" no País. É"temerário" mudar primeiro o currículo para ajustá-lo depois. Sou favorável à inovação e às novas iniciativas, mas essa decisão, no mínimo, é precipitada.
A mudança chamou atenção e provocou discussões no país ao incluir a possibilidade de escolha de diferentes trilhas de formação tradicional e técnica, educação integral e autorizar a contratação de professores sem licenciatura, mas que apresentem "notório saber": sem professor habilitado, só milagre!
O que deve ser considerado prioridade no ensino médio, são investimentos pesados na qualificação de professores que possam preparar os alunos antes do ingresso nas universidades. Hoje o indivíduo que conclui o ensino médio não está habilitado a nada. É apenas um generalista não preparado para o mercado de trabalho.
Livros didáticos articulados - Além de considerar precipitada a unificação das disciplinas do ensino médio, considero também prematuras as metas do Plano Nacional do Livro Didático (PNLD) de 2015 as quais preveem a distribuição de livros e material didáticos articulados com outras áreas do conhecimento.
É impossível atingir a meta. O Brasil não tem escritores para escrever esses livros e não estão explícitos os possíveis escritores e atores que poderão contemplar a interdisciplinaridade de textos para o ensino básico.
Defendemos o decálogo:
1. Criar cursos técnicos, de acordo com as necessidades do mercado de trabalho e reservar 800 horas para a sua ministração, na 3 ª série, deixando a escolha a cargo dos alunos;
2. Preparar professores para os cursos técnicos;
3. Elevar para 70% o domínio de Matemática e Leitura, num prazo de 5 anos;
4. Ampliar o número de escolas de tempo integral, com professores de dedicação exclusiva e salários compatíveis;
5. Considerar o potencial da educação a distância. O Brasil tem, hoje, 1,1 milhão de alunos frequentando os vários cursos dessa modalidade;
6. Construir bibliotecas e laboratórios, especialmente de informática;
7. Criar, dentre os gestores escolares, o cargo de Inspetor de Qualidade de Ensino (IQE), para acompanhar adequadamente o cumprimento pleno do currículo escolar;
8. Cuidar efetivamente da assistência aos alunos portadores de necessidades especiais, incluindo-se as altas habilidades (superdotados);
9. Oferecer bônus aos professores e especialistas por resultados;
10. Corrigir a defasagem idade/série.
Temos também a esperança de que a educação a distância seja também de extrema utilidade no ensino médio.
(*) é professor universitário, jornalista e escritor